Arte Contemporânea e Educação

Celso F. Favaretto

Como fazer com que os acontecimentos de linguagem, sensações, percepções e afetos, que se fazem nas plavras, nas cores, nos sons, nas coisas, nos lugares e eventos sejam articulados como dispositivos, como agenciamentos de sentido irredutíveis ao conceitual, como outro modo de experiência e do saber? São os profissionais da educação com arte que sabem responder a estas perguntas e falar do papel da arte na educação. 

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REVISTA IBERO-AMERICANA DE EDUCAÇÃO. N.º 53 (2010), pp. 225-235

 
 
 

________________________________________________________________________________________Porque e como: Arte na educação

Ana mae Barbosa

 

O último livro de Elliot Eisner, The Arts and the creation of mind (2002), é uma preciosidade,além de conceituações de Arte e de Educação que o tornam muito próximo de John Dewey e Paulo Freire ele estabelece uma taxonomia das visões de Arte/Educação ao longo do século XX. Conceitua Educação como um processo de aprender como inventarmos a nós mesmos. Menos confiante nas nossas invenções do mundo Paulo Freire nos ensinou que a Educação é um processo de vermos a nós mesmos e ao mundo a volta de nós. Enquanto Eisner enfatiza Imaginação Paulo Freire valoriza-a mas sugere diálogos com a Conscientização social. Para ambos a educação é mediatizada pelo mundo em que se vive, formatada pela cultura, influenciada por linguagens, impactada por crenças, clarificada pela necessidade (PF), afetada por valores e moderada pela individualidade. Trata-se de uma experiência com o mundo empírico, com a cultura e a sociedade personalizada pelo processo de gerar significados, pelas leituras pessoais auto-sonorizadas do mundo fenomênico e das paisagens interiores. É aí, na valorização da experiência que os três filósofos ou epistemólogos se encontram, Dewey, Paulo Freire e Eisner. Se para Dewey experiência é conhecimento, para Freire é a consciência da experiência que podemos chamar conhecimento. Já Eisner destaca da experiência do mundo empírico, sua dependência de nosso sistema sensorial biológico, que é a extensão de nosso sistema nervoso ao qual Susanne Langer chama de “órgão da mente”. Segundo Eisner, refinar os sentidos e alargar a imaginação é o trabalho que a Arte faz para potencializar a COGNIÇÃO. Cognição é o processo pela qual o organismo se torna consciente de seu meio ambiente.Novamente os três gigantes da filosofia da Educação se encontram e nos alertam acerca da importância da arte para nos permitir a tolerância à ambigüidade e a exploração de múltiplos sentidos e significações.
 

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O Ensino de Arte

Artigo de Rosa Iavelberg sobre a importância dos professores na construção da identidade artística das crianças e dos jovens que freqüentam as escolas.

 

 
A aprendizagem artística trabalhada em sala de aula
tem como função desenvolver no aluno a competência
para criar, interpretar e refletir sobre a arte.

P A L A V R A

 

Rosa Iavelberg: “O ensino de arte requer um professor orientador, que incentiva a produção, o envolvimento e a constância do aluno”.
O ensino de arte
 
A educação em arte ganha crescente importância quando se pensa na formação necessária para uma adequada inserção social, cultural e profissional do jovem contemporâneo. Ela imprime sua marca ao demandar um sujeito da aprendizagem criador, propositor, reflexivo e inovador. Se hoje o aluno deve 
ser formado para enfrentar situações incertas e para resistir às imposições de velocidade e de fragmentação que caracterizam a contemporaneidade, a arte pode colaborar e muito.
Na construção da identidade artística das crianças e dos jovens que freqüentam as escolas, os professores têm um papel significativo. Sua colaboração é ainda maior quando sabem respeitar os modos de aprendizagem e dedicar o tempo necessário a fornecer orientações e conteúdos adequados para a formação em arte, que inclui tanto saberes universais como aqueles que se relacionam ao cotidiano do aluno.
É o professor quem promove o fazer artístico, a leitura dos objetos estéticos e a reflexão sobre a arte, de modo que o aluno possa se desenvolver como um sujeito governado por si próprio ao mesmo tempo em que interage com os símbolos da cultura. Além de debater os conteúdos específicos da área, o professor deve estar atento para o temperamento de cada aluno, observando suas ações e individualidade. Ou seja, na formação em arte o plano da subjetividade dialoga permanentemente com as informações e orientações oferecidas pelo professor. 
Acolher e exigir são os pólos da oscilação pendular, que representa os movimentos do professor nas orientações didáticas em arte. Dessa forma, são 
criadas as condições para que o aluno sinta-se bem ao manifestar seus pontos de vista e mostrar suas criações artísticas na sala de aula, além de favorecer a construção de uma imagem positiva de si mesmo como conhecedor e produtor em arte.
Assim, fazem parte do conjunto de ações desenvolvidas pelo professor nessa área: orientar os processos de criação artística oferecendo suporte técnico, 
acompanhando o aluno no enfrentamento dos obstáculos inerentes à criação, ajudando-o na resolução de problemas com dicas e perguntas e fazendo-o 
acreditar em si mesmo; propor exercícios que aprimoram a criação, informando-o sobre a História da Arte; promover a leitura, a reflexão e a construção 
de idéias sobre arte e ainda documentar os trabalhos e textos produzidos para análise e reflexão conjunta na sala de aula. 
Cada imagem, cada gesto, cada som que emerge nas formas artísticas criadas em sala de aula têm grande importância, uma vez que se referem ao universo simbólico do aluno. Portanto, exigem a atuação precisa do professor, o planejamento do tempo, a organização do espaço e a 
atenção aos processos de comunicação, tanto entre professor e aluno como entre os colegas de classe. 
Uma aprendizagem artística assim percorrida deixará marcas positivas na memória do aprendiz, um sentimento de competência para criar, interpretar objetos artísticos e refletir sobre arte sabendo situar as produções. Além disso, o aluno aprende a lidar com situações novas, inusitadas e 
incorpora competências e habilidades para expor publicamente suas produções e idéias com autonomia.
Isso não significa que arte promova a auto-estima num passe de mágica, pela simples afirmativa de que tudo o que o aluno 
faz e pensa em arte é ótimo. 
Cada um se sentirá confiante em relação a sua arte à medida que aprender efetivamente, atendendo aos três eixos de aprendizagem significativa: fazer, interpretar e refletir sobre arte, sabendo contextualizá-la como produção social e histórica.
Dominar os processos de criação em arte, construindo um percurso cultivado, ou seja, informado pela cultura requer um professor orientador, que 
incentiva a produção, ensina os caminhos da criação e solicita do aluno envolvimento e constância. O apoio do professor, por sua vez, é alimentado pela sua atualização permanente, necessária para se ter familiaridade com o universo procedimental da arte. 
Também as leituras de objetos artísticos, outra competência que promove a imagem positiva do aprendiz, devem 
ter papel destacado na sala de aula, porque além de cumprirem o papel de formação cultural, conectam a aprendizagem escolar ao patrimônio cultural. A instância de formação escolar integrada à produção social da arte é um aprendizado para a participação do jovem na sociedade. Ao atribuir e 
extrair significados das produções de críticos, historiadores da arte, jornalistas, artistas, filósofos, com a mediação do professor, os jovens compreendem 
e se situam no mundo como agentes transformadores. 
Nesse percurso de construção de saberes, cada aluno fará escolhas com liberdade e discernimento, o que caracteriza os processos de criação em arte 
e de aprendizagem autoral. Será, sim, influenciado pelas culturas, mas contará com traços propositivos e transformadores, próprios dos modos de continuar aprendendo sempre e por si, dentro e fora da escola, renovando-se em contato a diversidade de manifestações artísticas que revelam o movimento contínuo da arte e do conhecimento. 
A vida cultural pode (e deve) transitar pela escola. A visita a feiras e ateliês, mostras da cidade, apresentações de dança, teatro e música tem o objetivo de estabelecer a comunicação permanente entre o que se estuda e a cultura em produção, além dos estudos referentes à História da Arte. Um aluno preparado para o futuro é aquele que acompanha seu tempo, ancorado em uma sólida formação. Nesse aspecto, a arte é, sem dúvida, uma base imprescindível por incluir as formas simbólicas que dizem respeito à humanização de todos os tempos e lugares.     
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS   

BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 1985.
COLL, C. & MARTÍN E. & MAURI, T. & MIRAS, M. & 
ONRUBIA, J. & SOLÉ, I. & ZABALA, A. O Construtivismo 
na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997.
FERRAZ, Maria Heloisa C. T. & FUSARI, Maria F. R. Arte 
na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992.
FERNANDO, Hernandez & VENTURA, M. A organiza-
ção do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: 
Artmed, 1998.
IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender Arte: sala de 
aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2003. 
________________. Material didático como meio de formação – criação e utilização. In: Educação com arte/série 
Idéias 31. São Paulo: FDE, 2004. 
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino 
Fundamental, MEC/SEF, 1997.
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar.
Porto Alegre: Artmed, 1998